Mulheres escravas e forras na mineração no Brasil, século XVIII

Mujeres esclavas y libres en la minería en Brasil, siglo XVIII

Slave and Freed Women in Mining, 18th-Century Brazil

Autores/as

  • Junia Ferreira Furtado Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de São Paulo, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.48038/revlatt.n1.1

Palabras clave:

mujeres, minería, Minas Gerais, esclavas mina

Resumen

Este artículo examina la presencia de mujeres esclavas en la extracción de oro y diamantes en la capitanía de Minas Gerais, Brasil, entre la década de 1680, cuando se descubrió oro en la región, y 1822, año de la independencia de Brasil. Utiliza documentación manuscrita e iconográfica de los siglos XVIII y XIX. Las mujeres africanas esclavas de distintos orígenes que llegaron a las minas se dedicaron a la exploración de oro y diamantes: en los primeros tiempos se destacaron las que provenían de la región de Costa da Mina, conocidas como esclavas “mina”, ya acostumbradas a la minería en África. Las esclavas fueron esenciales en varias etapas del proceso de exploración minera: estuvieron presentes y fueron importantes para el reconocimiento de los lugares más propicios para la aparición del oro, para el dominio de las técnicas de exploración aluvial en el lecho del río y para el uso de instrumentos apropiados, siendo corresponsables de la transmigración de la tecnología minera africana que se utilizaba ampliamente en la exploración minera. Muchas mujeres libres siguieron participando en la minería e incluso lograron reunir cierto peculio.

Abstract

This article highlights the important presence of slave women in the golden and diamond mining in the captaincy of Minas Gerais, Brazil, between the 1680s, when gold was discovered in the region, and 1822, when Brazil’s became independent. To do so, it uses primary document sources and iconographic documentation from the 18th and 19th centuries. Many slave women worked in the Brazilian golden and diamond mines; in the early 18th century especially a group already accustomed to the exploitation of gold in Africa, those from the Costa da Mina, known in the captaincy as “Mina” slaves. Slave women were essential in several stages of the mineral exploration process: they were present and were fundamental for the recognition of the most favorable locations for the appearance of gold, for the mastery of alluvial exploration techniques in the riverbed, as well as for the use of the appropriate tool, being co-responsible for transmigration of African mining technology that was widely used in mineral exploration. Many freedwomen continued to be involved in the golden and diamond rushes and were able to amass some properties.

Resumo

Esse artigo discute a presença das mulheres escravas na mineração aurífera e diamantífera, na capitania de Minas Gerais, Brasil, durante o período colonial, entre a década de 1680, quando se dá a descoberta de ouro na região, e 1822, ano da independência do Brasil. Para tanto, utiliza documentação manuscrita e iconográfica dos séculos XVIII e XIX. Mulheres africanas escravas de todas as procedências que chegavam às Minas se envolveram na exploração de ouro e diamantes, sendo que, nos primeiros tempos, destacaram-se, entre elas, as oriundas da região da Costa da Mina, conhecidas como escravas “mina”, já acostumadas à mineração na África. Cativas foram essenciais em várias etapas do processo de exploração mineral: estiveram presentes e foram importantes para o reconhecimento dos locais mais propícios ao aparecimento do ouro, para o domínio das técnicas de exploração da aluvião no leito dos rios, e para o emprego das ferramentas apropriadas, sendo corresponsáveis pela transmigração da tecnologia africana de mineração que foi fartamente empregada na exploração mineral. Muitas mulheres forras continuaram a se envolver na mineração, algumas chegando a reunir algum pecúlio.

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Publicado

2020-11-06

Cómo citar

Ferreira Furtado, J. (2020). Mujeres esclavas y libres en la minería en Brasil, siglo XVIII. Revista Latinoamericana De Trabajo Y Trabajadores, (1), 1–49. https://doi.org/10.48038/revlatt.n1.1